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Crédito Malparado em Portugal: Significado, Impacto e Como Resolver

 Intermediário de Crédito registado no Banco de Portugal com o nº0001429

Crédito malparado é um termo que nenhum consumidor deseja ver associado aos seus empréstimos. Em Portugal, milhares de famílias já enfrentaram esta realidade de crédito em incumprimento, com consequências sérias para as finanças pessoais e para a economia.

Neste artigo, vamos explicar detalhadamente o que é um crédito malparado, incluindo termos relacionados como crédito vencido, crédito abatido ao ativo e crédito saneado.

Apresentamos dados estatísticos atualizados sobre o malparado em Portugal, exemplos práticos e soluções eficazes para quem está em incumprimento. O objetivo é promover a literacia financeira, ajudando-o a compreender os riscos do crédito malparado e como evitá-lo ou resolvê-lo.

Legenda: Empréstimos que deixam de ser pagos dentro dos prazos tornam-se “crédito malparado”, criando dificuldades tanto para credores quanto para devedores.

O que é um crédito malparado?

Crédito malparado (também chamado de crédito em incumprimento ou crédito não produtivo) designa um empréstimo bancário cujo reembolso se tornou duvidoso ou está atrasado há mais de 90 dias.

Em outras palavras, trata-se de um crédito em que o cliente deixou de pagar as prestações por um período prolongado, sinalizando ao banco que a cobrança total da dívida é incerta ou improvável. O termo “malparado” significa literalmente “que correu mal” ou “ficou em mau estado”, o que reflete bem a situação – a operação de crédito não saiu como previsto, pois o devedor não cumpriu o acordado.

Um empréstimo entra na categoria de malparado normalmente após 3 meses seguidos de prestações em atraso. Até atingir esse ponto, o crédito é considerado apenas vencido (ou seja, com prestações vencidas não pagas).

Assim, todo crédito malparado começa por ser um crédito vencido; a distinção vem com o tempo de atraso e a avaliação de recuperabilidade. Se o atraso ultrapassa 90 dias – ou mesmo antes, se o banco concluir que a dívida dificilmente será paga – então o crédito passa a ser classificado como malparado (em inglês, Non-Performing Loan, frequentemente abreviado NPL).

Segundo o Parlamento Europeu, um empréstimo é categorizado como malparado quando tem pagamento atrasado 90 dias ou mais ou quando o reembolso é considerado improvável pelo credor. Em suma, é o estágio mais grave do incumprimento de um crédito.

Crédito vencido: o que significa?

Um crédito vencido é, de forma simples, um empréstimo com pagamentos em atraso. Basta falhar uma prestação para que o contrato passe a ter valores vencidos não pagos. Conforme a definição do Banco de Portugal, crédito vencido é o crédito cujo prazo de reembolso já passou sem que o pagamento tenha sido efetuado.

Não há um prazo mínimo para se considerar “vencido” – qualquer atraso configura esta situação. Porém, enquanto os atrasos são recentes (inferiores a 90 dias, por exemplo), o banco ainda pode encarar o caso como temporário. Nesta fase, o cliente está em incumprimento, mas ainda pode regularizar a dívida e retomar a situação normal sem cair na “lista negra” de históricos de crédito negativos.

A diferença entre crédito vencido e malparado está no grau e duração do incumprimento. Todo crédito malparado é um crédito vencido, mas nem todo vencido chega a ser malparado. Em geral, considera-se malparado o crédito vencido cujo atraso excede 90 dias ou que o banco já classifica como de cobrança duvidosa.

Portanto, 90 dias de atraso é um marco importante: a partir daí, o devedor perde a classificação de atraso pontual e passa a ter um histórico de incumprimento sério registrado.

Além disso, um crédito malparado costuma implicar que o banco terá de constituir provisões e tomar medidas adicionais (como acionar garantias ou recorrer a cobranças externas), dada a maior probabilidade de não recuperação.

O que significa crédito abatido ao ativo?

Ao consultar o Mapa de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal, pode deparar-se com a expressão “Crédito abatido ao ativo”. Essa classificação indica uma situação ainda mais extrema dentro dos créditos malparados.

De acordo com o glossário do Banco de Portugal, crédito abatido ao ativo é um crédito em incumprimento persistente, normalmente por um longo período, que foi retirado do ativo da instituição financeira, embora a dívida ainda exista e possa ser cobrada.

Em outras palavras, o banco desistiu de contar com aquele valor – “abateu” dos seus livros contábeis – devido à falta de pagamento continuada.

Importa notar que “abatido ao ativo” não significa perdão da dívida. O devedor continua em incumprimento e pode sofrer cobranças. Frequentemente, quando um crédito chega a este estado, o banco já esgotou as tentativas de cobrança internas e provisionou a perda, podendo inclusive vender a dívida a empresas de recuperação de créditos.

O banco retira o crédito do seu balanço por não ter esperança de o receber, mas pode ceder esse crédito a terceiros que tentarão recuperá-lo.

Ter um crédito abatido ao ativo no histórico é gravíssimo para o cliente, pois significa que o nome permanece manchado na Central de Responsabilidades de Crédito até que a situação seja resolvida. Nessa condição, nenhum banco concederá novos créditos, já que há indicação clara de incumprimento definitivo.

Para “limpar” o nome, a pessoa teria de pagar toda a dívida em atraso ou negociar alguma solução com o credor. Caso o crédito tenha sido vendido, a dívida passa a constar na CRC com o novo credor; se for totalmente paga ou perdoada, então sai do registro nos meses seguintes.

Crédito saneado: qual é o significado?

A expressão “crédito saneado” não aparece formalmente nos relatórios do Banco de Portugal, mas por vezes é utilizada em linguagem financeira. Saneado significa “limpo” ou “regularizado”, então crédito saneado refere-se a um empréstimo que teve problemas de cobrança mas foi posteriormente recuperado ou regularizado.

Por exemplo, se um crédito esteve malparado e o cliente conseguiu pagar as prestações em atraso (ou renegociar a dívida) voltando a cumprir o contrato, pode-se dizer que esse crédito foi saneado.

Em certos contextos, o termo é também usado quando o banco retira do balanço créditos incobráveis (faz write-off), “limpando” as contas desses ativos tóxicos – embora, estritamente, isso corresponda ao crédito abatido ao ativo.

Resumindo, crédito saneado indica que o problema foi resolvido ou expurgado: ou o devedor pagou/reestruturou a dívida, ou o banco eliminou aquele crédito dos seus ativos por considerar perda. Em ambos os casos, deixa de ser um malparado ativo no balanço da instituição.

Imóveis e crédito malparado: o risco da casa em incumprimento

Um dos aspetos mais preocupantes do crédito malparado ocorre quando estão em causa créditos hipotecários (empréstimos ligados a imóveis, como o crédito habitação). Nestes casos, além da dívida financeira, está em risco um bem essencial: a casa da família.

Se o crédito habitação entra em incumprimento prolongado, o banco pode avançar para a execução da hipoteca, resultando na penhora e venda do imóvel para recuperar o valor em dívida.

É por isso que os especialistas enfatizam que a prestação da casa deve ter prioridade máxima no orçamento familiar, acima de outros créditos – perder a habitação é um golpe duro, com consequências sociais e emocionais enormes.

Infelizmente, nos anos que se seguiram à crise financeira, muitos créditos habitação acabaram por ficar malparados e foram vendidos a fundos. Isso significou que famílias com dificuldades viram o seu empréstimo ser transferido para empresas de investimento ou de cobrança, frequentemente sem terem sido informadas previamente.

Essa prática levantou preocupações sobre a proteção dos devedores, pois ao sair do banco, o contrato deixava de estar sob supervisão financeira e as famílias perdiam acesso a alguns mecanismos de renegociação e proteção. Para combater esse problema, as autoridades europeias aprovaram a Diretiva (UE) 2021/2167, que estabelece regras para a compra e venda de créditos malparados de forma a salvaguardar os consumidores.

Em Portugal, a transposição dessa diretiva está em curso para garantir que mesmo após a venda do crédito, os devedores mantêm os direitos do contrato original, podem pedir renegociação e são devidamente informados de todo o processo.

O objetivo é evitar cenários em que a venda a um fundo impeça a família de recuperar o empréstimo ou negociar, forçando-a desnecessariamente à perda do imóvel.

É importante salientar que mais de metade do crédito malparado das famílias está ligado a imóveis. No terceiro trimestre de 2024, cerca de 52% do montante de créditos em incumprimento das famílias correspondia a crédito à habitação. Isso mostra como o malparado nas famílias portuguesas incide fortemente sobre as casas.

Apesar de o rácio de malparado na habitação ter atingido mínimos históricos (cerca de 1,2% do total de crédito habitação em 2023), a recente subida das taxas de juro e o aumento do custo de vida fizeram este indicador subir ligeiramente para perto de 1,3% em 2024. Ou seja, ainda que globalmente o malparado esteja em queda, há sinais de agravamento no segmento das famílias, exigindo redobrada atenção para evitar incumprimentos, sobretudo no crédito da casa.

Outro dado relevante: muitas vezes, os créditos malparados têm imóveis como garantia colateral, mesmo fora do âmbito da habitação própria.

Por exemplo, no setor empresarial, uma parte significativa dos empréstimos incumpridos está garantida por propriedades (imóveis comerciais, terrenos, etc.), o que influencia a forma de resolução – podendo levar à venda desses ativos para amortizar a dívida.

Em suma, “imóveis e crédito malparado” estão intimamente ligados, seja no contexto das famílias que arriscam perder a casa, seja nas dívidas empresariais onde património imobiliário está em jogo.

Crédito malparado em números: situação atual em Portugal

A boa notícia é que Portugal conseguiu reduzir drasticamente o crédito malparado nos últimos anos. Após a crise de 2011-2014, o volume de créditos em incumprimento atingiu proporções alarmantes, com rácios recorde em 2016 – cerca de 17% de todos os créditos bancários estavam malparados em meados de 2016.

Esse foi o pico histórico da “bolha” de incumprimento. Desde então, graças a esforços conjuntos de bancos, reguladores e melhorias económicas, o malparado caiu para mínimos nunca vistos.

No final de 2023, o rácio de malparado total recuou para apenas 2,7%, o valor mais baixo das séries históricas. Isso significa que, em média, apenas cerca de 3% do crédito concedido pelos bancos estava em incumprimento – uma situação muito mais saudável comparada ao cenário de 1 em cada 6 empréstimos em incumprimento que se verificava no pico da crise.

Entrando em 2024 e 2025, os números mantiveram-se estáveis e até melhoraram ligeiramente. No primeiro trimestre de 2025, o rácio total de crédito malparado nos bancos portugueses era de aproximadamente 2,3%.

Em valores absolutos, isto representa em torno de 5 mil milhões de euros em créditos incumpridos no sistema financeiro, num universo de cerca de 211 mil milhões de euros de empréstimos totais. Os dados detalhados do Banco de Portugal mostram diferenças importantes por tipo de crédito:

  • Crédito à habitação: Rácio de malparado em torno de 1,2% (isto é, pouco mais de 1% dos empréstimos da casa estão em atraso). Este índice caiu nos últimos anos para mínimos históricos, reflexo de uma rigorosa concessão de crédito habitação e do esforço das famílias em priorizar esta dívida. Ainda assim, corresponde a cerca de 139 mil famílias com a casa em situação de malparado, segundo estimativas recentes.
  • Crédito ao consumo e pessoal: Rácio de malparado mais elevado, aproximadamente 6,2% em 2025. O crédito ao consumo (como cartões de crédito, créditos pessoais, automóvel, etc.) tende a ter mais incumprimento, possivelmente porque tem taxas de juro maiores e porque esses empréstimos não têm garantias fortes. De fato, estimativas indicam que cerca de 7,1% dos portugueses com algum tipo de crédito estão em incumprimento nos seus empréstimos – o que sugere que aproximadamente 7 em cada 100 clientes bancários de crédito não conseguem pagar pelo menos um dos seus créditos.
  • Crédito a empresas: Rácio de malparado em torno de 4% no início de 2025. O setor empresarial representava mais da metade do volume de malparado em Portugal (por volta de 54% do total), mas tem assistido a reduções significativas através de reestruturações e vendas de carteiras de dívidas. Pequenas e médias empresas (PME) acumulavam uma boa parcela desses créditos de cobrança duvidosa.

Este progresso na diminuição do malparado deve-se, em parte, a uma estratégia ativa dos bancos de limpar os balanços. Na última década, os bancos portugueses venderam mais de 10 mil milhões de euros em créditos malparados a investidores e fundos especializados.

Ao alienar carteiras inteiras de empréstimos problemáticos, os bancos reduzem o rácio de malparado e libertam-se do trabalho de cobrança. Contudo, essas vendas nem sempre foram pacíficas – como vimos, ocorreram casos de créditos (incluindo habitação) vendidos sem o conhecimento dos devedores, gerando críticas e ações legais.

Hoje, com rácios controlados, as instituições financeiras também estão mais criteriosas na concessão de novos créditos, aplicando análises rigorosas da capacidade de pagamento para evitar que o malparado volte a aumentar.

Por exemplo, exigem taxas de esforço comportáveis e verificam historiais na Central de Riscos do BdP antes de aprovar empréstimos, justamente para prevenir situações de incumprimento e sobre-endividamento.

Ainda assim, não se pode baixar a guarda. O contexto económico de inflação e subida de juros em 2022-2023 trouxe novos desafios, e algumas famílias voltaram a entrar em aperto financeiro, refletindo-se num ligeiro aumento dos créditos vencidos no segmento particular.

Felizmente, Portugal parte agora de uma posição mais sólida: a percentagem de malparado é inferior à média europeia (que rondava 1,9% em 2024), e tanto bancos como consumidores estão mais conscientes dos riscos. A literacia financeira desempenha aqui um papel crucial – quanto mais informadas as pessoas estiverem sobre gestão de crédito, menor a probabilidade de caírem em incumprimento.

Por que ocorre o crédito malparado? Principais causas

As razões que levam um crédito a ficar malparado são variadas, mas normalmente envolvem desequilíbrios financeiros inesperados na vida do devedor. Eis alguns dos principais motivos que podem deixar alguém com créditos em atraso:

  • Quebra de rendimento: Perder o emprego ou ter uma redução abrupta de salário é talvez a causa mais comum. O desemprego ou mesmo passar a receber subsídio (com valor inferior ao salário original) pode incapacitar o pagamento das prestações. Esta situação foi muito evidente, por exemplo, durante as crises económicas, quando muitas pessoas ficaram desempregadas e não conseguiram honrar os empréstimos.
  • Aumento das prestações: Para créditos a taxa variável (especialmente crédito habitação indexado à Euribor), uma subida acentuada dos juros faz a mensalidade aumentar. Se o orçamento estava justo, o aumento da prestação pode torná-la incomportável. Em 2022 e 2023 vivemos isto: famílias que tinham prestações confortáveis viram-nas subir dezenas ou centenas de euros devido à Euribor, entrando em incumprimento.
  • Despesas inesperadas ou aumento do custo de vida: Emergências médicas, acidentes, apoio a familiares, nascimento de filhos ou outros eventos podem gerar despesas extraordinárias. Quando o custo de vida sobe (por inflação alta) e todas as contas ficam mais caras, é fácil faltar dinheiro para os créditos. Muitos casos de malparado decorrem de “apertos” temporários que depois se agravam se nada for feito.
  • Divórcio ou separação: Alterações na estrutura familiar podem afetar a renda disponível. Se um casal com créditos se separa, muitas vezes o titular que fica responsável enfrenta dificuldades para pagar sozinho algo que antes era a dois. Divórcios estão associados a um aumento de incumprimento, pois as despesas sobem e o rendimento disponível de cada um diminui.
  • Má gestão financeira e sobre-endividamento: Contração excessiva de créditos sem planejamento adequado pode levar a um ciclo vicioso. Quem acumula vários empréstimos (cartão, carro, pessoal, etc.) e utiliza crédito para pagar crédito acaba por se endividar além da sua capacidade. Quando a taxa de esforço ultrapassa um certo limite (por exemplo, 40% do rendimento), o risco de incumprimento torna-se muito alto. Sem uma educação financeira que promova o consumo responsável e a poupança, algumas pessoas entram em incumprimento simplesmente por má organização e decisões financeiras inadequadas.
  • Crises económicas gerais: Situações macroeconómicas, como recessões ou pandemias, podem elevar o malparado. Por exemplo, durante a crise das dívidas soberanas ou a pandemia de COVID-19, muitos tiveram moratórias e apoios; ao terminarem, alguns não conseguiram retomar pagamentos, aumentando o malparado. Uma forte inflação também pode corroer o poder de compra e levar ao incumprimento de quem antes conseguia pagar.

Entender as causas do malparado ajuda a prevenir. Se identificamos os sinais de alerta – perda de emprego, subida de juros, acumulação perigosa de dívidas – podemos agir cedo para evitar que o crédito fique em atraso. A próxima secção foca exatamente nisso: o que fazer para resolver (ou evitar) um crédito malparado.

Crédito malparado: como resolver e sair do incumprimento

Estar em situação de crédito malparado não é o fim da linha. Embora seja uma condição difícil, existem soluções e passos que pode tomar para regularizar a sua situação financeira. O mais importante é não ignorar o problema. Quanto mais cedo agir, maiores as chances de sucesso.

Aqui estão algumas estratégias eficazes:

1. Renegociar o crédito com o banco: Assim que perceber que está a ter dificuldade em pagar uma prestação, contacte de imediato o seu banco. A renegociação é muitas vezes o caminho mais rápido para obter alívio. Os bancos preferem encontrar uma solução amigável a entrar em incumprimento total, pois também têm interesse em evitar processos judiciais morosos.

Negociar pode envolver reduzir a taxa de juro (spread) do empréstimo, alargar o prazo de pagamento para baixar a prestação mensal, ou até conseguir um período de carência temporário (ficar alguns meses pagando só juros, sem amortizar capital).

Em alguns casos, pode-se diferir parte do capital para pagar apenas no fim. Tenha em mente que renegociar normalmente torna o empréstimo mais caro no total (pagará mais juros ao alongar o prazo), mas garante alívio imediato nas prestações e pode evitar medidas extremas como penhoras ou venda da casa.

Se a dificuldade é conjuntural, explicar a situação ao banco e propor um plano de pagamento pode travar o agravamento do incumprimento. Hoje, muitos bancos mostram abertura para renegociar, especialmente crédito habitação, até por orientação das autoridades (existe legislação recente incentivando renegociação de crédito habitação quando a taxa de esforço sobe além de certo patamar).

2. Consolidar os créditos: Se tem múltiplos empréstimos e dívidas dispersas, uma solução a considerar é a consolidação de créditos. Isto significa juntar todos os empréstimos num só, contraindo um novo crédito para liquidar os anteriores, ficando apenas com uma prestação mensal. A consolidação pode reduzir significativamente a prestação total mensal, geralmente porque o novo empréstimo tem um prazo mais longo e uma taxa de juro média mais baixa.

Muitas famílias em sobre-endividamento conseguem assim “respirar”, pois passam a pagar, por exemplo, 300€ em vez de 600€ somando tudo. Contudo, é preciso avaliar os prós e contras: ao prolongar o prazo, paga-se mais juros no longo termo. Ainda assim, se a prioridade é aliviar o orçamento de imediato e evitar incumprir pagamentos, a consolidação é uma ferramenta útil.

Em Portugal, já há várias instituições e intermediários que oferecem este serviço – e o próprio site Reduzir Prestações disponibiliza um simulador de crédito consolidado onde pode verificar potencial de poupança. Lembre-se de que para consolidar é preciso ter ainda alguma credibilidade (não estar com todo o crédito abatido ou em processo judicial), pois trata-se de um novo contrato sujeito a aprovação.

3. Plano de pagamento extrajudicial (PERSI): No caso de créditos bancários (sobretudo habitação), existe um mecanismo legal chamado PERSI – Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento. Este procedimento é acionado pelo banco assim que o cliente entra em incumprimento por mais de 30 dias no crédito habitação.

Basicamente, obriga o banco a estudar propostas de reestruturação ou acordo com o cliente antes de avançar para execução da hipoteca ou tribunal. Se estiver em malparado, informe-se se o seu crédito está em PERSI – durante esse período, há suspensão de certas ações de cobrança e pode negociar sem o fantasma imediato da perda da casa.

Aproveite essa janela para chegar a um acordo sustentável. Por exemplo, o banco pode propor estender o prazo do empréstimo até uma idade limite, ou mesmo uma dação em pagamento (entregar o imóvel para saldar a dívida, evitando dívidas remanescentes) se for inevitável.

4. Recorrer a aconselhamento financeiro especializado: Não tenha receio ou vergonha de pedir ajuda, pois lidar com dívidas pode ser complexo. Em Portugal, entidades como a DECO – Defesa do Consumidor oferecem aconselhamento financeiro através do seu Gabinete de Proteção Financeira.

Os técnicos analisam a sua situação e ajudam a delinear um plano de recuperação. A DECO inclusive pode intermediar negociações com bancos em nome dos consumidores endividados. O contacto é confidencial e pode evitar muitas armadilhas.

Há também intermediários de crédito especializados em renegociação de dívidas – empresas que, com a devida autorização do Banco de Portugal, negociam com os credores por si, tentando descontos nos juros ou no montante em dívida. Segundo alguns especialistas, este apoio profissional aumenta consideravelmente as chances de sucesso numa negociação difícil.

Naturalmente, convém certificar-se de que procura entidades credíveis e registadas (desconfie de promessas milagrosas mediante elevadas comissões antecipadas). Mas o ponto central é: não enfrente o problema sozinho se não consegue. Orientação externa pode trazer novas perspetivas e soluções.

5. Vender bens ou encontrar fontes de rendimento extra: Como medida de último recurso, avaliar a possibilidade de alienar algum bem para pagar a dívida pode ser necessário.

Por exemplo, vender um segundo carro, joias de valor, ou mesmo uma casa secundária (se existir) para liquidar os empréstimos em atraso. É uma decisão difícil, mas é preferível vender voluntariamente do que esperar uma penhora judicial que será sempre mais prejudicial.

Por vezes, famílias com crédito habitação malparado optam por vender a própria casa no mercado – liquidando o empréstimo e evitando ficar com insolvência ou sem teto (podem arrendar algo mais barato depois). Essa opção deve ser ponderada friamente: se a casa for vendida por valor suficiente para pagar ao banco, evita-se a execução e as consequências negativas no histórico.

Além disso, procurar rendas extras ou renegociar aumentos salariais pode ajudar a sair do buraco. Alguém da família pode arranjar um segundo emprego temporário ou fazer trabalhos freelances para compor o orçamento durante a crise. Cada euro a mais direcionado para pagar dívidas em atraso conta para recuperar a normalidade.

6. Insolvência pessoal (último caso): Quando nenhuma das soluções acima resulta e a dívida se tornou absolutamente impagável, existe ainda o caminho legal da insolvência pessoal (vulgarmente, “falência” do indivíduo).

Declarar insolvência implica acionar um processo em tribunal onde se demonstra que não se consegue pagar as dívidas. Pode então ser aprovado um Plano de Pagamentos ou, se não houver acordo com credores, a liquidação de património e exoneração do passivo restante ao fim de 5 anos (a chamada “perdão de dívidas” para recomeçar do zero).

A insolvência deve ser o último recurso, pois acarreta perda dos bens (a casa, se for propriedade, por exemplo) e restrições financeiras por vários anos, além de ficar registado. Contudo, para alguém extremamente endividado, pode ser um recomeço após cumprir as condições impostas.

Antes de optar por isto, deve aconselhar-se bem (com advogados ou entidades como a DECO) e perceber se se qualifica para a exoneração do passivo. Muitas vezes, renegociar voluntariamente com credores resulta em acordos melhores do que a insolvência, portanto explore todas as vias anteriores exaustivamente.

7. Evitar recaídas no futuro: Resolver o problema imediato é crucial, mas igualmente importante é trabalhar na prevenção para que não se repita. Isso envolve adotar práticas de literacia financeira: fazer um orçamento mensal realista, cortar despesas supérfluas, criar uma reserva de emergência (por pequena que seja) e pensar bem antes de contrair novos créditos.

Se o sobre-endividamento foi a causa, é fundamental rever hábitos de consumo. A educação financeira é sua aliada – há cursos, simuladores (como o simulador de taxa de esforço disponibilizado neste site) e materiais que podem ajudar a reorganizar a vida financeira.

Lembre-se: sair do malparado exige disciplina e mudança de comportamentos. Talvez implique dizer não a novas compras a crédito, trocar de carro por um mais barato ou renegociar contratos de serviços para poupar. Mas essas mudanças trarão estabilidade a longo prazo.

Por fim, um aconselhamento prático: mantenha sempre aberta a comunicação com os credores. Se o seu crédito for vendido a uma empresa de recuperação, contacte-a assim que souber da cessão, peça os detalhes da dívida por escrito e tente negociar um plano de pagamento ou desconto.

Essas empresas compram a dívida com desconto, muitas vezes permitindo acordos vantajosos (como pagar, por exemplo, 50% do valor em troca de quitação total). Agir de forma proativa é melhor do que reagir sob pressão. E guarde todos os comprovativos de pagamentos e acordos celebrados, para evitar surpresas futuras.

Conclusão: a importância da literacia financeira para evitar o malparado

O crédito malparado é uma realidade que pode atingir qualquer pessoa quando menos espera – basta um revés financeiro para transformar um crédito saudável em incumprido.

Neste artigo, vimos o que significa ter um crédito mal parado, quais os termos técnicos que aparecem associados (crédito vencido, abatido ao ativo, etc.) e explorámos dados recentes em Portugal, que mostram uma clara melhoria no sistema bancário mas também alertam para focos de risco (como o aumento do incumprimento nas famílias em 2024).

Abordámos ainda soluções práticas: renegociação, consolidação, aconselhamento e outras medidas para resolver dívidas em atraso.

A grande lição é que informação e educação financeira são as melhores ferramentas para prevenir problemas de crédito. Quando compreendemos bem os contratos que assinamos, avaliamos a nossa taxa de esforço e planeamos as finanças com prudência, reduzimos a probabilidade de cair em incumprimento.

E caso entremos numa situação difícil, saber que existem caminhos (e direitos) – como o PERSI, a possibilidade de renegociar, ou que uma venda de crédito não nos tira todos os direitos – ajuda a enfrentar o problema com menos ansiedade e mais estratégia.

Reforçamos, portanto, a importância da literacia financeira: procure aprender continuamente sobre gestão de dinheiro, créditos e poupança. Pequenas decisões informadas (como fazer um fundo de emergência, ou não usar crédito fácil para consumo impulsivo) podem fazer toda a diferença em atravessar períodos de crise sem entrar em incumprimento.

Por outro lado, se já está em malparado, não hesite em pedir ajuda e em usar o conhecimento a seu favor – leia sobre o assunto, informe-se dos seus direitos no Banco de Portugal e em fontes confiáveis (por exemplo, o portal do cliente bancário, a DECO, a Pordata com estatísticas.).

Em conclusão, enfrentar o crédito malparado exige ação e educação. Com soluções bem aplicadas e lições aprendidas, é possível sair do incumprimento, recuperar a estabilidade financeira e evitar recaídas.

Lembre-se sempre: o crédito deve ser um aliado e não um inimigo das suas finanças – usado de forma consciente e responsável, ele impulsiona sonhos; mas sem literacia financeira, pode virar um pesadelo.

Invista em conhecimento, planeie antes de se endividar e, caso algo corra mal, aja rapidamente. Assim, estará a proteger o seu futuro financeiro e a contribuir para uma economia mais saudável, com menos malparado e mais famílias tranquilas.

Referências e Fontes:

Estas e outras fontes confiáveis foram consultadas para garantir a atualidade e exatidão das informações apresentadas. Com conhecimento e ação, é possível dominar o crédito em vez de ser dominado por ele.

Veja também: Qual o Melhor Crédito Consolidado?

Se deseja saber mais sobre como lidar com o crédito malparado e obter aconselhamento especializado, a Credisolutions está aqui para ajudar. Credisolutions é uma marca Essential Advice, Intermediário de Crédito, Unipessoal, Lda., registada no Banco de Portugal com o nº0001429. Se você está a sentir o peso das prestações dos seus créditos, não hesite em pedir uma simulação. Reduzir as prestações dos seus créditos pode ser a solução para um alívio financeiro bem-vindo.